segunda-feira, 31 de dezembro de 2012


quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

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No Natal, “haja Deus”
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Em ano relativamente recente, cruzei-me na rua com um amigo de infância acompanhado de sua neta, uma menina de 3 a 4 anos. Em véspera de Natal dirigi-me naturalmente à criança perguntando o que esperava que o menino Jesus lhe trouxesse. Após uma pequena hesitação – pareceu-me que não tinha percebido a pergunta –, disse que tinha pedido ao Pai Natal um determinado brinquedo. Compreendendo o contexto da resposta da menina, insisti: “e o menino Jesus?”. Respondeu-me, decidida, perguntando: “quem é esse?!”. O avô, um pouco embaraçado, procurou explicar-me que agora os brinquedos pedem-se ao Pai Natal… Lembrei-me, logo, dos nossos Campos de Férias onde se têm encontrado adolescentes e jovens que nunca ouviram falar de Jesus nas suas ainda curtas vidas.
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A festa do Natal, tal como os mais velhos a viveram, tinha por pressuposto o conhecimento, mesmo superficial, dos fundamentos da religião cristã. Toda a gente sabia, acreditando ou não, que o Natal era a festa do nascimento de Jesus, do menino Jesus, como se dizia. Era a incarnação de Deus na linguagem e nos costumes. Ora, tal contexto sociológico e religioso mudou.
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Vivemos num mundo plural, o que significa entre outras coisas, que as pessoas têm direito à escolha, nem que seja daquilo que as possa prejudicar. Basta que aceitem as respetivas consequências. E a religião não escapa a esta outra maneira de estar, em especial no mundo ocidental. Por exemplo, em Inglaterra e no País de Gales o censo de 2011 revelou que o número de pessoas que se identificam como cristãos diminuiu de 13% desde 2001. Na década de 2001 – 2011, os cristãos diminuíram de mais de 70% para 59,3% da população. Todas as outras principais religiões registaram aumentos, com destaque para o Islão que passou de 3% para perto dos 5%. Só a percentagem de judeus é que se manteve idêntica, em 0,5% da população. Porém, o que agrava a preocupação dos lideres cristãos é que a categoria que registou o maior aumento em termos numéricos foi a dos que se declaram ateus e agnósticos, que em 10 anos passou de 15 para 25% da população, cerca de 14 milhões de pessoas. Para isso muito tem contribuído o ativo movimento ateísta que na última década procurou apresentar a religião como um obstáculo ao progresso e ao desenvolvimento civilizacional. Não é de estranhar, portanto, que no significado do Natal a matriz cristã, da fé, se vá substituindo pelo registo publicitário das compras e das prendas, sem Deus.
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Mas, então, porque é que, em geral, as pessoas, cristãs ou não, no Natal alteram as suas rotinas e se preocupam com coisas e pessoas de modo diferente da dos outros meses do ano? Creio que ninguém foge à “magia” do Natal. A sua simbologia – o presépio com as suas figuras e a árvore com as suas luzes – introduz as pessoas numa afetividade muito pessoal trazendo-lhes à memória a infância, por vezes longínqua, e a ambiência familiar. Talvez seja a figura do menino Jesus a tocar o coração das gentes, como qualquer criança com quem se cruzam na rua. Ou será, mesmo, porque o Natal se vive em tempo invernoso a exigir cuidados na defesa das intempéries, as pessoas, nesta altura do ano, privilegiam o aconchego do lar e dos outros, o resguardo de si próprias, uma espécie de relação estreita com a interioridade pessoal. Ora, é nesta circunstância que nos cabe a nós, cristãos, ser arautos de uma mensagem de confiança e esperança.
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O nascimento de Jesus é parte da história da salvação iniciada no povo hebraico, em que Deus cumpre a promessa da vinda do Messias, transmitida pelos Profetas ao povo. Neste sentido, Jesus é a palavra de Deus feita vida, “aquele a quem Deus escolheu e enviou ao mundo” (S. João 10,36). No Natal, portanto, a esperança da antiga tradição hebraica transforma-se numa nova esperança, transmitida a um novo Povo pelo próprio Jesus, o Emanuel, Deus connosco (Isaías 7,14). Quer dizer, em Jesus, Deus dá-nos a conhecer que a esperança é parte essencial da vida humana e concede-nos a certeza da Sua presença para a alimentar e fortalecer. Parece-me, portanto, que, na celebração do nascimento do menino em Belém, devemos “ver” o abraço de Deus.
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O abraço é, acima de tudo, uma manifestação física de uma amizade verdadeira, de um afeto que está para além do que racionalmente se possa compreender. “A amizade é o dom que não se explica”, diz-nos Tolentino Mendonça, e no abraço se põe tal amizade a nu, tudo se oferece, tudo se recebe e, dessa forma, tudo se expõe até ao âmago. Nada fica para além do abraço. Terminar uma franca conversa entre amigos com um abraço é como selar uma carta de afetos, dá-lhe legitimidade e permite-lhe circular. Por isso, quando Jesus diz “ninguém pode chegar ao Pai sem ser por mim” e “quem me vê a mim vê o Pai” (S. João 14, 6.9), quer dizer claramente que n’Ele se expõe o “todo” de Deus: recetivo, atento, disponível.
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É, no Natal, naquele Menino, está o abraço de Deus! Afirmemo-lo com firmeza, como cristãos. Somos um povo que tem o seu fundamento genético na ressurreição de Jesus (“se Cristo não ressuscitou, então a nossa pregação é inútil e a vossa fé é inútil também” – I Cor. 15,14) mas que “nasce” cada ano, no Natal, tocado pela certeza desse abraço divino a partir do qual toda a esperança é possível. Basta que façamos d’Ele o centro da nossa vida e que no exercício desta levemos o Seu abraço aos outros.
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Desejo que neste Natal, como o dito brasileiro, “haja Deus” nos vossos corações.
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+ Fernando
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Centro Diocesano, V. N. Gaia, 14 de Dezembro de 2012.
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sábado, 8 de dezembro de 2012




domingo, 2 de dezembro de 2012




O ADVENTO.

Receber uma visita é uma arte que uma dona de casa exercita com freqüência. E quando o visitante é ilustre, os preparativos são mais exigentes. Imagine o leitor que numa Missa de domingo seu pároco anunciasse a visita pastoral do bispo diocesano, acrescida de uma particularidade: um dos paroquianos seria escolhido à sorte para receber o prelado em sua casa, para almoçar, após a Missa.
 
Certamente, durante alguns dias, tudo no lar da família eleita se voltaria para a preparação de tão honrosa visita. A seleção do menu, para o almoço, o que melhorar na decoração do lar, que roupas usar nessa ocasião única. Na véspera, uma arrumação geral na casa seria de praxe, de modo a ficar tudo eximiamente ordenado, na expectativa do grande dia.
 
Essa preparação que normalmente se faz, na vida social, para receber um visitante de importância, também é conveniente fazer-se no campo sobrenatural. É o que ocorre, no ciclo litúrgico, em relação às grandes festividades, como por exemplo o Natal. A Santa Igreja, em sua sabedoria multissecular, instituiu um período de preparação, com a finalidade de compenetrar todas as almas cristãs da importância desse acontecimento e proporcionar-lhes os meios de se purificarem para celebrar essa solenidade dignamente. Esse período é chamado de Advento.
 
Significado do termo
Advento - adventus, em latim - significa vinda, chegada. É uma palavra de origem profana que designava a vinda anual da divindade pagã, ao templo, para visitar seus adoradores. Acreditava-se que o deus cuja estátua era ali cultuada permanecia em meio a eles durante a solenidade. Na linguagem corrente, significava também a primeira visita oficial de um personagem importante, ao assumir um alto cargo. Assim, umas moedas de Corinto perpetuam a lembrança do adventus augusti, e um cronista da época qualifica de adventus divi o dia da chegada do Imperador Constantino. Nas obras cristãs dos primeiros tempos da Igreja, especialmente na Vulgata, adventus se transformou no termo clássico para designar a vinda de Cristo à terra, ou seja, a Encarnação, inaugurando a era messiânica e, depois, sua vinda gloriosa no fim dos tempos.

Surgimento do Advento cristão
Os primeiros traços da existência de um período de preparação para o Natal aparecem no século V, quando São Perpétuo, Bispo de Tours, estabeleceu um jejum de três dias, antes do nascimento do Senhor. É também do final desse século a "Quaresma de São Martinho", que consistia num jejum de 40 dias, começando no dia seguinte à festa de São Martinho.
São Gregório Magno (590- 604) foi o primeiro Papa a redigir um ofício para o Advento, e o Sacramentário Gregoriano é o mais antigo em prover missas próprias para os domingos desse tempo litúrgico.
No século IX, a duração do Advento reduziu-se a quatro semanas, como se lê numa carta do Papa São Nicolau I (858-867) aos búlgaros. E no século XII o jejum havia sido já substituído por uma simples abstinência.
Apesar do caráter penitencial do jejum ou abstinência, a intenção dos papas, na alta Idade Média, era produzir nos fiéis uma grande expectativa pela vinda do Salvador, orientando-os para o seu retorno glorioso no fim dos tempos. Daí o fato de tantos mosaicos representarem vazio o trono do Cristo Pantocrator. O velho vocábulo pagão adventus se entende também no sentido bíblico e escatológico de "parusia". 
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Coroa do Advento
Ela é tão simples quanto bonita: um círculo feito de ramos verdes, geralmente de ciprestes ou cedros. Nele coloca-se uma fita vermelha longa que, ao mesmo tempo enfeita e mantém presos à haste circular os ramos. Quatro velas de cores variadas completam essa bela guirlanda que, nos países cristãos, orna e marca há séculos a época do advento. A esta guirlanda dá-se o nome de Coroa do Advento.

Um antigo costume piedoso
Nos domingos de Advento, existe o piedoso costume de as famílias e as comunidades se reunirem em torno de uma coroa para rezar.
A "liturgia da coroa", como é conhecida esta oração, realiza-se de um modo muito simples. Todos os participantes da oração colocam-se em torno daquela guirlanda enfeitada e a cerimônia tem início, Em cada uma das quatro semanas do advento acende-se uma nova vela, até que todas sejam acesas.
 
O acender das velas é sempre acompanhado com um canto. Logo em seguida, lê-se uma passagem das Sagradas Escrituras que seja própria para o tempo do Advento e é feita uma pequena meditação. Depois disso é que são realizadas algumas orações e são feitos alguns louvores para encerrar a cerimônia. Geralmente a guirlanda da coroa, bem como as velas são bentas por um sacerdote.

Origem
A Coroa de Advento tem sua origem na Europa. No inverno, seus ainda bárbaros habitantes acendiam algumas velas que representavam a luz do Sol. Assim, eles afirmavam a esperança que tinham de que a luz e o calor do astro-rei voltaria a brilhar sobre eles e aquecê-los. Com o desejo de evangelizar aquelas almas, os primeiros missionários que lá chegaram quiseram, a partir dos costumes dos da terra, ensinar-lhes a Fé e conduzi-los para Jesus Cristo. Foi assim que, criaram a "coroa do advento", carregada de símbolos, ensinamentos e lições de vida.

A forma circular
O círculo não tem princípio, nem fim. É interpretado como sinal do amor de Deus que é eterno, não tendo princípio e nem fim. O círculo simboliza também o amor do homem a Deus e ao próximo que nunca deve se acabar, chegar ao fim. O círculo ainda traz a ideia de um "elo" de união que liga Deus e as pessoas, como uma grande "Aliança".

Ramos verdes
Verde é a cor que representa a esperança, a vida. Deus quer que esperemos a sua graça, o seu perdão misericordioso e a glória da vida eterna no final de nossa vida terrena. Os ramos verdes lembram as bênçãos que sobre os homens foram derramadas por Nosso Senhor Jesus Cristo, em sua primeira vinda entre nós e que, agora, com uma esperança renovada, aguardamos a sua consumação, na segunda e definitiva volta dEle.

Quatro velas
O advento tem quatro semanas, cada vela colocada na coroa simboliza uma dessas quatro semanas. No início a Coroa está sem luz, sem brilho, sem vida: ela lembra a experiencia de escuridão do pecado.
À medida em que vamos nos aproximando do natal, a cada semana do Advento, uma nova vela vai sendo acesa, representando cada uma delas uma aproximação mais próxima da chegada até nós daquele que é a luz desse mundo, Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele é quem dissipa toda escuridão, é quem traz aos nossos corações a reconciliação tão esperada entre nós e Deus e, por amor a Ele, a "paz na Terra entre os homens de boa vontade". (JSG)
Com esse tempo de preparação, quer a Igreja ensinar-nos que a vida neste vale de lágrimas é um imenso advento e, se vivermos bem, isto é, de acordo com a Lei de Deus, Jesus Cristo será nossa recompensa e nos reservará no Céu um belo lugar, como está escrito: "Coisas que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou, tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles que O amam" (1Cor 2, 9).
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